“O mais importante é conseguir que estas mensagens cheguem às empresas, a todo o mercado” referiu Paula Franco a propósito do título da conferência – “Pagar a horas, fazer crescer Portugal” – o qual é também o lema do programa CPP, ao qual a Ordem dos Contabilistas Certificados se associou recentemente. Nas palavras da sua bastonária, porém, “em Portugal e do ponto de vista cultural, não só não se cumprem os pagamentos, como também não se dá importância a esse incumprimento”, o que reforça a urgência de uma mudança de mentalidade, para a qual pode contribuir a ajuda de diversos organismos, recorrendo ao exemplo anteriormente dado pelo IAPMEI face à possibilidade de se introduzir, na atribuição da distinção PME Líder, a performance das empresas no que respeita ao seu historial de pagamentos.
Para Paula Franco, um dos grandes problemas das empresas que não pagam a horas reside no facto de estas não se aperceberem – ou não se preocuparem – com o facto de o seu incumprimento ter implicações negativas em outras suas congéneres “o que gera obviamente uma situação que fragiliza o cumprimento e a sustentabilidade das empresas portuguesas”. Assim, e para fazer crescer Portugal, torna-se fundamental que esta matéria se transforme também num “ponto de honra”, acrescentou ainda.
No que respeita à Ordem que representa, o objectivo é alavancar este programa e ajudar que o pagamento pontual seja uma realidade. “Estamos em todas as empresas e, portanto, temos forma de as alcançar e fazer com que esta informação realmente se torne uma necessidade”, realça, afirmando igualmente que “todos nós, enquanto empresários, gostaríamos muito de saber, cada vez que vamos ter uma relação comercial com um novo cliente, como é que ele se comporta em termos de pagamento”. Se esta informação já consta, para as 1507 empresas aderentes, no website do Compromisso Pagamento Pontual, a verdade é que, a seu ver, se devia ir muito mais além. “Explicar, partilhar e permitir às empresas que, antes de assumirem compromissos comerciais, pudessem consultar quais são as empresas que cumprem, seria uma verdadeira meta, um factor decisor para se ter aquele cliente ou não”. Pois e na verdade, “é preferível não ter um novo cliente do que ter um mau cliente” e isto é algo que as empresas portuguesas têm de aprender, o que não acontece com todas”, remata.
Adicionalmente, e para a bastonária, seria também muito importante que esta preocupação do pagamento a horas se reflectisse em todos os projectos, inclusivamente no que diz respeito aos incentivos “que estão para chegar”, na medida em que “assistimos, muitas vezes, ao facto de muitas destas empresas recorrerem a financiamentos, a incentivos, não privilegiando, elas próprias, o pagamento aos seus fornecedores”. Desta forma, defende que o pagamento atempado deveria existir também enquanto critério de atribuição destes mesmos incentivos e “para podermos estar no mercado de forma honrosa, de forma séria, para que seja possível fazer crescer Portugal”. Sublinhando que a sustentabilidade das empresas é um dos maiores problemas a enfrentar no futuro, agravado ainda mais pela actual crise pandémica, Paula Franco tem, contudo, esperança de que a situação que agora vivemos possa servir para “uma nova alavanca” e para novas formas de funcionamento de que as empresas portuguesas tanto precisam para criar a tão desejada sustentabilidade.
A bastonária da OCC relembrou igualmente a “grande responsabilidade do Estado e o facto de os seus pagamentos influenciarem muitíssimo as empresas e a economia no geral”. Ou seja, e a seu ver, “é fundamental a continuidade de um esforço enorme para que os pagamentos sejam feitos de outra forma por parte do Estado, porque influenciam imenso as empresas, as quais, por sua vez, não tendo a disponibilidade financeira para cumprirem os seus compromissos, irão falhar em relação a outras, o que se transforma numa bola de neve de incumprimentos”.
Para que tal aconteça, sublinha o “muito que há a fazer” nesta dinamização e projecção por parte da ACEGE e de todas as suas entidades parceiras, reforçando igualmente o empenho da OCC neste programa e na necessidade de o trazer para “o centro da discussão e para o centro dos objectivos das empresas”.