“Desde Setembro de 2011 que estamos neste combate de sensibilização das empresas, independentemente da sua dimensão, e já agora do Estado, como forma de, e como é lema deste nosso encontro, fazer crescer Portugal. Todos nós queremos que Portugal atinja crescimento digno desse nome e isso implica um conjunto de factores, de atitudes e entre elas, esta boa prática dos Pagamentos Pontuais”, referiu António Saraiva no início da sua intervenção.
Apesar de considerar “uma vitória” o facto de existirem 1507 empresas aderentes a este compromisso, o presidente da CIP lamentou o facto de, no universo empresarial do país, este número ser ainda reduzido. Todavia, e “num ano em que vivemos uma das piores crises de que há memória, disruptiva, que nos obriga a todas estas novas maneiras de estar, de nos reinventarmos, com as dificuldades enormes que sentem estas pequenas unidades empresariais, do sector da restauração desde logo ao pequeno comércio, num ano em que sofrem drásticas reduções das suas facturações e em que são penalizados nas suas tesourarias, é de louvar termos esta crescente sensibilização do nosso tecido empresarial traduzida na entrada de 400 novas empresas”, acrescentou.
Para o presidente da CIP, este facto revela “um sinal de esperança, um sinal que nos deve animar a fazermos mais e melhor”, acrescentando que “podemos dar o nosso pequeno contributo para este grande objectivo que é não estrangular tesourarias, que é não levar à morte e ao desemprego, que importa que paguemos nos prazos contratualizados, porque a gestão de tesouraria obriga a que esse planeamento e a que essa obtenção de receita chegue na data calendarizada para se honrar os compromissos que as entidades têm para com terceiros”. Assim, continua, “se este ciclo virtuoso for respeitado, se esta boa prática for cumprida, todos contribuiremos de facto para o crescimento do nosso país, para a sustentabilidade do nosso tecido empresarial que, sendo composto, como sabemos, por micro e pequenas empresas, e sendo igualmente certo que é pelas suas tesourarias que as entidades empresariais morrem, há que as robustecer”.
Para tal, e referindo os apoios que a CIP, enquanto confederação empresarial, tem solicitado ao Estado através do governo, António Saraiva espera que estes “sejam rapidamente lançados, alguns deles a fundo perdido – em determinadas condições, é claro, pois estamos a utilizar dinheiros públicos” na medida em que são absolutamente necessários para “salvar postos de trabalho e para manter a capacidade instalada”. Acreditando que a retoma vai acontecer e sublinhando que a questão das vacinas serve como um sinal acrescido de esperança para superarmos esta pandemia pela parte da saúde, o presidente da CIP frisa que “há que a alimentar também a economia, não a podendo deixar morrer”.
Admitindo que “estar hoje no Governo é uma tarefa ciclópica”, António Saraiva diz que “só jogando em ‘selecção’ e em regime de coesão em termos de soluções, medidas, atitudes, será possível superarmos esta dificuldade acrescida”. Assim e para manter a capacidade instalada e salvar os postos de trabalho, “é exigido que as tesourarias sejam mantidas e, com esse objectivo, esperamos que os apoios que temos solicitado sejam rápidos, eficientes e que respondam às necessidades, o que tem sido o nosso apelo e a forma como temos construído caminho”.
Para António Saraiva, é nesta interacção de atitudes que o Governo, os parceiros sociais, as empresas, as Ordens, a banca, “conseguirão criar formas de sustentabilidade, de manutenção das empresas, acautelar postos de trabalho e, na retoma, que vai chegar, estarmos em condições de fazer crescer Portugal, que é o grande objectivo que todos temos”.
Afirmando concordar com as palavras de António Macedo (v.Caixa) de que “vamos sair desta crise com marcas”, o presidente da CIP convida a que delas sejam retiradas aprendizagens e que estas não sejam apenas cicatrizes com que ficaremos. “Que sejam marcas de experiência, de cidadania, de novas atitudes, porque cidadãos e Estado têm hoje uma enorme missão pela frente”.
E, por falar em Estado, “as suas dívidas têm de ser reduzidas”, afirma com veemência. “Nada impede que tenhamos boas práticas e que os pagamentos pontuais sejam iguais para todos, seja para as empresas de grande ou pequena dimensão, seja para o Estado”, diz, afirmando ainda que esse é o pedido recorrente que tem sido feito. “Muitas empresas que conheci, e que lamentavelmente já desapareceram, morreram porque o Estado foi incumpridor nos prazos de pagamento, provocando-lhes graves danos de tesouraria e de sobrevivência”. E acusa também este Estado de “ter dois pesos e duas medidas”, na medida em que exige “ a nós, cidadãos e empresas, o pagamento a horas das nossas obrigações fiscais, sob pena de pesadas multas e de outros efeitos que depois nos limitam a actividade”. Ou seja, “não se pode ter dois pesos e duas medidas e o Estado tem que dar o bom exemplo, tem de ser igualmente cumpridor”.
Reforçando a ideia de que este é um jogo de selecção e que o pagamento a horas tem de ser uma boa prática adoptada por todos, o presidente da CIP voltou a recordar que “estamos há 10 anos neste combate de despertar consciências e boas práticas”. A ideia é assim “continuar, alargar este apoio a outros que seguramente a nós se associarão”, afirmando-se “ seguro que com estas boas práticas, com os bons exemplos que hoje aqui premiamos, felicitando as empresas que hoje aqui estão e preservando estas boas atitudes, o exército alargar-se-á e, tal como o lema deste encontro invoca, colocaremos Portugal a crescer, pagando a horas”.